terça-feira, abril 04, 2006

Capote - Hipocrisia em nome do sucesso!

Capote
Género: Drama

Eis a biografia de Truman Capote, um escritor norte-americano que criou um novo género literário que designou de romance não ficcional. Autor de livros como "Breakfast at Tiffany's" o filme roda em torno da produção do seu maior sucesso "A Sangue Frio" que conta a história do assassinato de uma família do Kansas cometido por uma dupla de forasteiros.



Atenção: se ainda não viu o filme
talvez não deva ler o texto que vem a seguir!



Dias após ter assistido a Coisa Ruim, fui ver Capote. Capote é um filme muito calmo com apenas uma gota de violência e por isso é muito susceptível a que os espectadores adormeçam durante o filme. Não... não foi o meu caso.

Gostei do filme. Em termos técnicos não notei nada de mau. A extraordinária representação de Philip Seymour Hoffman (no papel de Capote) foi o suficiente para me manter acordado durante o espectáculo :)!


A história contada chocou-me pela enorme quantidade de hipocrisia existente. Truman representa perante o criminoso, com o qual acaba por estabelecer uma relação, Perry Smith. Em frente dele é muito simpático e amigável e quando não está com ele mostra o seu verdadeiro "eu" gozando com frases que o crimonoso escreveu no diário entre outros...



A fachada hipócrita de Truman começa a ser-lhe um fardo quando o julgamento da dupla é constantemente adiado. Na ansia de conhecer o final da história Truman começa a não suportar mais ter de ir visitar Perry e ouvi-lo a dizer o quão louvado será quando o livro com a sua história sair. O facto é que Perry não sabe a verdadeira realidade do livro. Perry pensa que Truman está a escrever sobre ele para mostrar ao mundo que ele não é o monstro que o mundo pensa que ele é, quando na verdade Truman está a relatar tudo sem ficção passando exactamente a imagem contrária.

Perto do final Perry lê no jornal sobre uma palestra dada por Truman onde este leu as primeiras passagens do livro e qual não é o espanto deste quando este descobre que o nome do livro é "A Sangue Frio". Cheguei a pensar que ía ser desta que Capote iria levar um bom murro por tanta hipocrisia e falsidade da sua parte mas não... Truman Capote conseguiu, mais uma vez, arranjar uma desculpa brilhante.

"Maldito Capote! Já te tenho tanta raiva que se te visse agora dizia-te das boas!"

Sim, sim... cheguei mesmo a ter raiva dele. Tanta hipocrisia começou a ser demasiada areia para o meu camião!
Mas não tardou a que Capote se visse afectado pelos seus próprios actos. No fim Truman Capote acaba mesmo por descobri o quão ligado estava a esse criminoso. Descobria uma amizade que fora tecida sem que ele desse por isso e agora enfrentava os resultados do seus actos: a urgência, a impaciência em querer saber o final da história levou-o a negar deliberadamente o segundo pedido de Perry para que Truman lhe arranjasse novamente um advogado bom que os defendesse. Truman sabia que à semelhança da primeira vez, se este lhes arranjasse um novo advogado eles seriam muito bem defendidos o que levaria a que Truman não conseguisse obter o final da história. Por isso ele negou... ignorou o bilhete e os assassinos, sem defesa, foram condenados à morte imediatamente.

Inesperadamente Truman cai numa depressão não reagindo a quaisquer chamadas nem a quaisquer bilhetes enviados pelo seu recém-descoberto amigo Perry Smith.
Mas, cheio de uma força desconhecida Truman cai na realidade e desloca-se à prisão mesmo antes de os crimosos serem executados.
Lá Truman é finalmente ele mesmo, demonstrando o afecto que este tinha acabo por desenvolver por Perry Smith.
Finalmente os criminosos são executados e o filme termina.

Foi uma boa história, um bom filme e uma excelente representação (o actor mereceu mesmo o óscar) de Capote. Só é pena que o filme seja tão calmo, tão calmo que dá azo a uma boa soneca.

CLASSIFICAÇÃO: